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Histria do Municpio
de So Francisco de Paula

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O municpio de So Francisco de Paula est localizado no planalto do nordeste gacho, na microrregio dos Campos de Cima da Serra, incorporado regio das Hortnsias. Sua rea atual de 3.274 quilmetros quadrados, sendo um dos maiores municpios do estado do Rio Grande do Sul. A altitude de quase mil metros favorece nevascas no inverno. A cidade recebeu o apelido carinhoso de “So Chico” dado por seus visitantes que so presenteados h milhares de anos com uma privilegiada natureza cercada de rios, campos verdejantes e ondulados com lindas coxilhas, pinheiros-araucrias e vales exuberantes como, por exemplo, os da Ronda, Roa Nova, Boa Esperana, Caconde, Pessegueiro, Boa Vista (onde h a Toca das Andorinhas, um pequeno cnion com cachoeira), Lagoas, Samambaia e Jos Velho; alm de contar com cnions espetaculares como o do Josaf, e serras escarpadas como a do Umbu e do Pinto (Rota do Sol). Seus distritos, alm da Sede, so: Tainhas, Cazuza Ferreira, Rinco dos Kroeff, Ju, Eletra (Salto) e Lajeado Grande, outras atraes que alm de possurem belezas naturais remetem ao sculo XIX com suas arquiteturas e costumes. Nos Campos de Cima da Serra h centenrias taipas, que so muros de pedras mouras de aproximadamente um metro de altura, de mdio tamanho, colocadas uma em cima da outra, soltas, mas firmes na finalizao, algumas atingindo quilmetros, feitas pelos fazendeiros para dividirem os seus campos ou para invernarem seu gado, e neste caso so maiores na altura.
Os ndios primitivos de dois mil anos atrs:
Os primeiros seres humanos que aqui chegaram foram os ndios de Tradio Taquara, denominados assim pelos arquelogos por causa do primeiro local aonde foram encontrados os seus vestgios, tambm achados do sul paulista ao nordeste gacho. Apareceram aqui h cerca de dois mil anos, tendo sido encontrados traos de sua agem a dois quilmetros do centro da cidade, em 1966. Estes ndios aproveitaram como moradias as tocas e tneis feitos por tatus gigantes que viveram aqui entre 10 milhes e 10 mil anos atrs, quando foram exterminados pelos silvcolas que chegaram ao Rio Grande do Sul, provveis descendentes dos que atravessaram o Estreito de Bering. Os ndios de Tradio Taquara foram um dos poucos grupos que resistiram ao assdio dos guaranis graas ao local que habitavam, pois encontravam-se protegidos pelo meio ambiente, com lugares de difcil o, rios pequenos e no navegveis, mata fechada, terrenos acidentados, altitude acima de 600 metros, muito frio e muita neblina que deixava os inimigos indefesos. Com o tempo, mudaram as suas habitaes, fazendo um tipo de casas-poo quase no alto duma coxilha. Eram timos engenheiros e suas moradas eram feitas num enorme buraco; ainda escavavam galerias e faziam telhado de materiais leves, troncos, barro e folhas, como tambm usavam lajes de basalto.
ndios caaguas e os jesutas espanhis no sculo XVII. As investidas dos bandeirantes
Uns dos provveis descendentes dos ndios de Tradio Taquara foram os ndios caaguas ou caaguaras, que significa “habitante das matas” ou “gente do mato”. Tais foram expulsos de outras terras gachas por ndios como os tapes, minuanos e guaranis, retornando ao local de origem dos seus anteados para proteo pessoal. Os jesutas espanhis foram os primeiros a descrever, num mapa, esta regio, e deram o nome de Caagua, em vista que aqui habitavam estes ndios. Em 1633, um pequeno grupo de caaguas foi pedir ajuda aos padres missioneiros. O padre jesuta Romero os recebeu e descreveu que eram ndios nmades, estavam todos nus, eram pacficos, no conheciam feijo, nem galinhas ou cachorros que eram criados pelos guaranis civilizados pelos jesutas e colocados em redues. Caaguas designao mais usada atualmente para estes ndios. Tentaram se comunicar na lngua guarani, porm muito mal, mas o padre Romero entendeu que precisavam de ajuda, pois os bandeirantes paulistas estavam prestes a invadir a sua regio com a ajuda de outros ndios, os ibianguaras ou ibirajaras, que viviam na regio prxima de onde hoje fica Caxias do Sul.
Em maro de 1635, novamente os caaguas foram pedir ajuda aos jesutas, pois estavam prestes a ser atacados pelos bandeirantes. Quem os recebeu desta vez foi o padre Montoya, sendo decidido que retornaria com eles o padre Cristvo de Mendona juntamente com alguns ndios guaranis recm-cristianizados. Em 8 de abril, saiu o pequeno grupo da regio das Misses em direo regio Caagua para tratar da vinda dos ndios que ali habitavam e traz-los para viverem na reduo Jesus Maria, prxima da atual cidade de Candelria. Chegando Caagua, o padre Cristvo, tambm conhecido como “pai querido”, foi muito bem recebido e adorado pelos ndios, e, como viera a cavalo, este animal impressionou a todos, pois nunca haviam visto algo igual. Aps alguns dias, chegara a hora da partida e os caaguas no queriam deixar o padre seguir viagem, mas este, mesmo assim, deu incio ao seu retorno. Antes, porm, foi resolvido que todos os caaguas iriam viver na reduo Jesus Maria e em poucos meses comearia esta grande jornada, pois, no momento, no havia comida suficiente para todos, no sendo ainda a hora ideal de partir. O padre Cristvo rumou com os ndios missioneiros, em torno de trs, mas no dia 25 ou 26 de abril (h controvrsias a respeito do dia exato), ele e seus parceiros de viagem foram massacrados na localidade de gua Azul, no atual distrito de Santa Lcia do Pia, pertencente atualmente a Caxias do Sul, sendo que este local, h poucas dcadas atrs, pertencia a "So Chico". O padre Cristvo de Mendona foi o primeiro mrtir da regio e de se estranhar ainda no ter sido pedida sua beatificao.
A maioria dessas informaes sobre os caaguas est no livro do excelente historiador e escritor Aurlio Porto: “Jesutas no Sul do Brasil – Volume III – Histria das Misses Orientais do Uruguai – Primeira Parte”, uma edio da Livraria Selbach de Porto Alegre, do ano de 1942. Conforme Porto, os ndios tupis chamavam os caaguaras de Iraiti-Inhacame, que significa cera na cabea, pois sobre as largas coroas que usavam punham cera, e, por isto, tambm eram conhecidos como cerados, e no coroados como erroneamente outros pesquisadores informaram. Na lngua tupi-guarani ira significa “mel”, iraiti “cera de abelha” e inhaca “cheiro ruim e invel”, “iaka” cabea.
H historiadores que dizem que entre junho e agosto de 1635, entrava, no Rio Grande do Sul, a primeira bandeira paulista, a “Bandeira de Aracambi” chefiada por Ferno de Camargo, o Tigre, com o intuito de escravizar os ndios patos, sendo que talvez possa ter vindo um pequeno grupo regio Caagua. Fica como fato histrico que a bandeira chefiada pelo famoso Antonio Raposo Tavares foi a primeira e que ou por Caagua em novembro de 1636, guerreando contra os pacficos caaguas, matando muitos deles e tornando a maioria escravos, ficando poucos vivos, e, no ms seguinte, atacando as redues jesutas das Misses, abrindo caminho para os colonizadores desta terra.
Com a fuga dos poucos caaguas ou caaguaras que sobreviveram ao ataque dos bandeirantes tornando-se selvagens e fugindo para as matas do norte do Rio Grande do Sul muito se perdeu, principalmente parte da sua lngua, pois at um novo nome dado por outros historiadores, o caaiagua, falado pela nao do mesmo nome estabelecida a oriente do rio Uruguai at seu nascimento a oeste, sendo um idioma particular de difcil pronunciao. Os caaiaguas ou caaguas-silvestres usam lngua prpria, difcil de entender, pois quando pronunciam suas palavras no parecem falar, mas sim assoviar ou formar acentos confusos na garganta. Os caaiaguas colhidos ou presos no costumam falar quando esto fora de sua nao e poucos so os missionrios que puderam escrever palavras nesse idioma. Estes no eram mais os caaguas “originais” que viveram em So Francisco de Paula, mas seus descendentes sofridos e selvagens que habitaram o norte gacho. Os caaguas de nosso municpio falavam algo parecido com o tupi-guarani, uma mistura com a sua antiga lngua. Dos nossos caaguas s restaram as lembranas de serem pacficos e amigos dos padres jesutas espanhis das redues das Misses tambm dizimadas.
Fundador da cidade: capito Pedro da Silva Chaves
O primeiro proprietrio com papel ado das terras onde hoje se encontra a cidade de So Francisco de Paula foi o capito Francisco Pinto Bandeira que deu o nome da Fazenda da Cria a uma sesmaria de campo (13.068 hectares) de sua posse desde, pelo menos, 1742. O capito Bandeira era av do famoso general Rafael Pinto Bandeira. J havia nesta regio, na poca, o capito Pedro da Silva Chaves, portugus de Lisboa, casado, em 1726, com Gertrudes de Godoy Leme, de ilustre famlia de Itu, So Paulo. O capito Chaves era dono de mais de cem mil hectares e foi nomeado Capito de Ordenanas pelo Conde de Bobadela, em 1752. Com esse fato, deveria ser criada no povoado de Cima da Serra do Viamo uma Companhia de Ordenanas formada por setenta homens. O capito Chaves teria todas as honras, privilgios, liberdades e isenes, sendo obrigado a residir no distrito seno seria revogada a carta-patente, sendo que aqui ficou e considerado o fundador de So Francisco de Paula, sendo seu primeiro governante.
Em 1777, o capito Chaves ditou seu testamento na Fazenda So Joo de sua propriedade e prxima do distrito de Tainhas. Neste documento consta ser devoto dum santo, So Francisco de Paula, a quem fez promessa de fazer uma igreja que est sendo construda na entrada da Serra; que fez doao de meia-lgua de terras e cinquenta vacas para patrimnio inicial da referida igreja e que seu corpo seja sepultado nela. A data da morte do capito Chaves ainda gera controvrsias, havendo, em registros genealgicos, o dia 12 de setembro de 1786, mas numa declarao de terras de 1785, seu filho, capito Joaquim, diz que seu pai j era falecido naquela ocasio.
O padre Jos da Silva Leal Leme, filho do capito Chaves, foi nomeado, em portaria episcopal de 22 de maro de 1761, para a Freguesia de So Francisco de Paula de Cima da Serra. Este nome ficou oficializado at 1939, quando foi retirado o “de Cima da Serra", sendo que os naturais desta localidade so conhecidos como serranos devido serem de Cima da Serra, o outro gentlico franciscano.
A abertura do “Caminho dos Tropeiros” no sculo XVIII. O Tropeirismo
No incio do sculo XVIII, comearam a serem abertas as estradas que consistiriam os primeiros caminhos dos tropeiros, na verdade muitas picadas usadas antes pelos ndios, jesutas e bandeirantes. Entre estes caminhos um foi melhorado pelo coronel Cristvo Pereira de Abreu que, seguindo o caminho j feito por Souza Faria, chegou, em 1 de fevereiro de 1732, em Cima da Serra do Viamo, inicialmente Caagua, atual So Francisco de Paula, mas antes buscou outros tropeiros que com trs mil mulas e cavalos subiram a serra. O coronel Abreu abrira uma nova rota vinda de Viamo, o Caminho dos Tropeiros, ando pelo Rio Rolante, via estrada da Serra Velha, chegando em Cima da Serra, seguindo depois em direo a Bom Jesus pela atual RS-110, mais conhecida como Estrada Real no sculo XVII, sendo, desde o incio do sculo XX, chamada pelos serranos, ainda hoje, de “estrada do meio”, surgindo na “Vacaria dos Pinhais” em fevereiro de 1733. Ficou naquelas bandas por algum tempo e depois seguiu o rumo de Curitiba, chegando l em 10 de junho de 1734. Este o marco do tropeirismo no sul do pas.
Cerca de vinte anos antes, os lagunistas estiveram aqui explorando o territrio gacho em busca de riquezas nas regies de Viamo, do Paranhana, do Vale dos Sinos e em Cima da Serra. Encontraram poucos ndios, pois a maioria deveria estar na regio de Caxias do Sul, e quando depararam com alguns foram com os minuanos que eram amistosos. Ouro e prata no havia neste territrio, mas as mulas seriam de grande valor, pois abasteceriam as minas de vrias regies do Brasil. Alguns destes lagunistas acabaram ficando, sendo os primeiros brancos a morarem nesta regio, mas no de se duvidar que j existissem por aqui alguns changueadores, como eram chamados os primitivos coureadores do sul do continente: ndios ou mestios sem rumo, timos cavaleiros que faziam muito bem a lida do campo, conhecidos depois como gaudrios e posteriormente gachos, descendentes das tribos indgenas do lado oriental do Rio da Prata, misturando o seu sangue com soldados espanhis e portugueses que “pelearam” (guerrearam) muito naquelas bandas.
Os ndios caingangues e xoclengues nos sculos XVIII e XIX
No final do sculo XVIII e incio do XIX, surgiram ndios ferozes, inimigos entre si, e ambas as tribos eram hostis aos colonizadores. De um lado, os coroados (hoje kaingangs, aportuguesado para caingangues) que viviam onde atualmente se encontram os municpios da regio mais ao norte e nordeste gachos, como Caxias do Sul e So Marcos que outrora pertenceu a este municpio como distrito; e no outro lado, mais prximo dos Aparados da Serra, os botocudos (hoje xoklengs, aportuguesado para xoclengues), na regio do municpio de Cambar do Sul, tambm antigo distrito de So Francisco de Paula. Os coroados eram em grande nmero, enquanto que os botocudos eram poucos, mas metiam muito medo nos indgenas rivais, alm de serem nmades, pois no ficavam muito tempo no mesmo local, enquanto que seus opositores tinham tribos. O principal motivo de suas batalhas eram os pinhes, a semente do pinheiro araucria e alimento predileto e essencial para todos. bem provvel que os botocudos fossem os descendentes dos poucos caaguas sobreviventes que fugiram dos bandeirantes h cerca de 150 anos atrs, por isso o nmero reduzido desses ndios, enquanto que os coroados seriam descendentes de ndios provenientes de outras regies do Brasil como a sudeste e mais ao sul vindos do Paran.
Os coroados tinham terror dos botocudos e de outra nao indgena semelhante que se distinguia porque usava nas orelhas furadas um pedao de pau, enquanto que os botocudos sempre tinham no lbio inferior um ornamento de madeira em posio vertical, os batoques, diverso de outros botocudos que utilizavam este adorno em forma circular alongando o beio. Os coroados traziam um dio hereditrio destas tribos desde os tempos mais remotos, inclusive por serem atacados por elas na poca da colheita dos pinhes, maior riqueza alimentar destas paragens. Ambas as tribos sequestravam as mulheres uns dos outros, que j eram poucas e de grande serventia, pois faziam as coletas de frutos, razes e mel.
Os botocudos faziam instrumentos cortantes de pedra, distinto dos coroados. Eram muito inteligentes e industriosos. Fabricavam ainda cunhas e machados de pedras de silcio muitas vezes encontrados pelos arquelogos juntos aos potes de barro. As pedras usadas para fazerem um machado eram bem duras, com preferncia pela do jaspe. Nesta pedra faziam um buraco por onde ava o cabo de madeira bem amarrado com tiras de fibras de taquara ou outras plantas, e no se sabe at hoje como faziam o buraco nessa pedra to dura.
Com essas informaes e os vestgios encontrados na regio da sede de So Francisco de Paula, como as cermicas em 1966, e pontas de flechas achadas nas proximidades, podemos supor que no foram os coroados habitantes desta parte do municpio, e sim os anteados dos botocudos, os caaguas, pois quando aqui chegaram os primeiros tropeiros, no sculo XVIII, j no havia mais ndios, somente nas regies mais afastadas da sede: os coroados na regio noroeste do municpio, em Caxias do Sul, So Marcos e Vacaria; e os botocudos nas regies norte e nordeste, nos Aparados da Serra e a leste na Serra Geral.
Os botocudos davam seu grito de alerta de intrusos, mas a palavra que os brancos entendiam era "puxi", que significa “o mal, ou coisa m", e que servia para os homens civilizados. Como o grito era tambm prolongado, assim como o "pucri" dos coroados que veremos mais adiante, para os colonizadores o "puxi-i-i-i" dos botocudos dava a entender que gritavam "bugio", que como sabemos o macaco das nossas matas, alm de ser, nos dias de hoje, um gnero de msica gacha autntica da nossa regio, exaltada no festival musical "Ronco do Bugio" realizado em So Francisco de Paula.
A palavra "bugre" surgiu com os coroados, pois quando avistaram os primeiros homens brancos ou surgia qualquer pessoa ou coisas estranhas ao seu acampamento, emitiam um alarme atravs dum grito agudo e forte, prolongando a ltima slaba at lhes faltar a respirao, como se fosse "pu-cri-i-i-i”. Na pronncia desta palavra -"pucri" - os portugueses entendiam "bugri" ou "bugre".
Os coroados arrumavam os seus cabelos, que eram finos, pretos, lisos, brilhosos e muito abundantes, em formato de coroa, arrancando-os na parte central de cima da cabea com as prprias mos, ficando somente a tonsura, cortando horizontalmente, com talas de taquara (so bem cortantes quando maduras), a parte inferior altura de meia-testa, permanecendo uma coroa de cabelos ao redor da cabea com uma largura perpendicular de dez centmetros muito semelhante ao corte dos padres franciscanos. Tiravam todos os pelos do corpo, inclusive as pestanas, o que permitia melhorar a viso para longe e enxergar objetos pequenos muito alm de onde brancos no conseguiriam distingui-los. As mulheres tambm retiravam todos os seus pelos e cabelos, menos num local da parte alta da cabea, deixando cerca de 30 cm de comprimento, e ento faziam uma trana em trs partes bem finas. Alguns diziam que ficando assim, sem nenhum pelo, os brancos ou outros indgenas os achavam muito jovens e se aproximavam, momento em que partiam para o ataque. Andavam sempre nus, apesar do rigoroso inverno. Tinham uma memria excelente e apesar de no possurem uma escrita avam, atravs da tradio oral, causos que tinham acontecido com seus anteados.
O fogo para os coroados era um atrativo em qualquer poca do ano, preferindo ar o dia inteiro em volta da fogueira, irando-a, e no fazendo mais nada. Somente saam quando houvesse alguma “correria” para guerrearem contra os seus inimigos ou saquearem os colonizadores brancos. Quando faziam estas “correrias” caminhavam um no o do outro, como se apenas uma pessoa tivesse ado naquele local, e sempre com os ps virados para a frente. Na volta, se no tinham o que fazer alm de confeccionarem mais flechas, seu maior bem, retornavam para ficar em volta da fascinante fogueira, mas no davam sinal de satisfao por se esquentarem, pois no sentiam o frio extremo e nem muito calor, ando facilmente as mudanas atmosfricas; quando iam dormir apagavam a fogueira para no atrair, pela luz, algum possvel invasor, e quando acordavam acendiam novamente o fogo. Tinham uma insensibilidade incrvel e rara para o frio.
Os coroados delimitavam seus territrios atravs duma marca prpria nos pinheiros (tambm pintada em flechas e no corpo; os botocudos do mesmo modo assinalavam os seus pinheiros e suas flechas) que pertenciam quela tribo dona da marca e, s vezes, lutavam pelas suas mulheres, pois a proporo naquela poca era de sete homens para trs mulheres. No disputavam por amor, mas porque as mulheres eram essencialmente teis, na realidade suas escravas submissas. Muitos j ouviram falar ou j disseram: “Minha bisav foi pega a cachorro no mato”, havendo muitos serranos que possuem no seu sangue uma origem indgena bem recente. A maior riqueza desses ndios era o pinho, o alimento predileto e sua base alimentar. O pinho era um grande motivo de ocorrer muitas batalhas entre outras tribos de coroados e demais indgenas com a mesma predileo. Nas pocas de colheita dos pinhes, as mulheres enterravam muitas pinhas num cho arenoso e mido, mantendo-os comestveis por todo o ano e ingerindo-os nos perodos em que ainda no havia nos pinheirais.
Designaes oficiais e extraoficiais
Nos tempos dos padres jesutas da Companhia de Jesus, nos anos 1600, j chamavam o local e uma grande regio adjacente da atual cidade de So Francisco de Paula de Caagua; depois, na poca dos tropeiros, nos anos 1700, de Povoado de Cima da Serra do Viamo; em 1809, na situao de distrito pertencente a Santo Antnio da Patrulha, como Povoado de Cima da Serra no tempo da Capitania de So Pedro do Rio Grande do Sul (1807/1821). No tempo da Guerra dos Farrapos j possua a designao de Capela de Cima da Serra, sendo que a capela foi benta em 21 de dezembro de 1761, e a inaugurao da primeira igreja em 1793. Em 30 de novembro de 1852, foi elevado categoria de Freguesia de Cima da Serra, a 53 da Provncia de So Pedro do Rio Grande, pertencendo ainda como distrito do municpio de Santo Antnio da Patrulha. Em 21 de maio de 1878, elevado categoria de Vila de So Francisco de Paula de Cima da Serra.
Em 5 de agosto de 1878, criado, pela primeira vez, o municpio de So Francisco de Paula de Cima da Serra, desencilhando-se do antigo municpio de Santo Antonio da Patrulha. Em 15 de maro de 1889, foi extinto o municpio de Cima da Serra, tornando-se distrito do municpio de Taquara, mas, em 6 de novembro do mesmo ano revogada a Lei, e pela segunda vez, retorna a municpio e “manda no prprio nariz”. Devido a questes polticas, novamente extinto o municpio em 1 de setembro de 1892, retornando a ser distrito de Taquara. Somente por decreto de 23 de dezembro de 1902, pela terceira e ltima vez feita a reestruturao poltica, sendo a sua instalao perpetrada em 7 de janeiro de 1903. So Francisco de Paula de Cima da Serra oficialmente deixou de ser vila em maro de 1938, elevando-se categoria de cidade e sendo retirada parte do seu nome, o “Cima da Serra”, o qual originou a denominao, para os seus filhos naturais, de serranos, e assim tomamos o nome de So Francisco de Paula desde 1 de janeiro de 1939.
O incio da colonizao da regio de So Francisco de Paula
Os colonizadores brancos desta terra vieram em massa no sculo dezoito, na poca do capito Chaves, sendo alguns poucos portugueses do continente, alm de paulistas, mineiros e lagunenses, vindo, com eles, seus escravos africanos e descendentes nascidos no Brasil. Com a chegada ao sul do Brasil, em 1748, dos portugueses do Arquiplago dos Aores, os aorianos, a miscigenao no Povoado de Cima da Serra tornou-lhe um povo hospitaleiro e de bom trato com escravos que tratavam da lida do campo, diferente da regio da outra So Francisco de Paula de Pelotas, onde haviam as charqueadas que assolavam os escravizados. Em 1878, quando elevado a municpio pela primeira vez, vieram novos colonizadores, muitos de origem alem e italiana, alm de alguns srio-libaneses, ingleses, ses e espanhis.

O Texto acima foi enviado pelo amigo e historiador Jos Carlos da Fonseca.

A igreja, Pedro da Silva Chaves, falecido em 1777, lhe dera o nome de So Francisco de Paula, por ser o santo de sua devoo.

Em 1809, a Capitania do Rio Grande de So Pedro do Sul, hoje estado do Rio Grande do Sul, era dividida em quatro grandes municpios: Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo e Santo Antnio da Patrulha.

Santo Antnio da Patrulha era constituda da Vila de Santo Antnio da Patrulha, que era a sede do Municpio das freguesias de Nossa Senhora da conceio do Arroio ( hoje Osrio) e Nossa Senhora da Oliveira da Vacaria ( hoje Vacaria ) e do povoado de Cima da Serra ( hoje So Francisco de Paula ).

De Santo Antnio da Patrulha, que foi nosso municpio me fizeram parte as freguesias de Nossa Senhora das Oliveiras da Vacaria e de Nossa Senhora da Conceio do Arroio e as Capelas de Santa Cristina do Pinhal, So Domingos das Torres e Povoados de Cima da Serra.

Assim, em 1835, So Francisco de Paula tinha a denominao de Capela, desconhecendo-se a data de elevao a essa categoria, sabendo-se, entretanto, que j existia uma igreja.

Pela Lei Provincial n. 266, de 30 de novembro de 1852, a capela de Cima da Serra, foi elevada categoria de FREGUESIA DE CIMA DA SERRA, cujo territrio continuou pertencendo a Santo Antnio da Patrulha.

Em 24 de maio de 1878, pela Lei n. 1.152, ou categoria de Vila, ficando assim, com a denominao de SO FRANCISCO DE PAULA DE CIMA DA SERRA. Sua instalao verificou-se em 15 de outubro de 1878.

Pela Lei n. 1.750, de 15 de maro de 1889, foi extinto o Municpio de So Francisco, anexando-o ao de Taquara do Mundo Novo ( hoje Taquara ). Entretanto, a 06 de dezembro do mesmo ano, o Governo do Estado, por Ato n. 26, revogou a referida lei.

Em 1 de setembro de 1892, face ao Ato n. 302, o municpio de So Francisco de Paula era extinto e anexado ao vizinho municpio de Taquara do Mundo Novo, novamente.

Pelo Decreto n. 563, de 23 de dezembro de 1902, foi restabelecido, definitivamente, o municpio de SO FRANCISCO DE CIMA DA SERRA, sendo essa sua data de Criao.

'' Que condies econmicas So Francisco de Paula tinha, na ocasio de sua emancipao?''

'' Por que ele se emancipara e, depois, torna a ser anexado a Taquara?''

Verifica-se que foi uma questo econmica. So Francisco, do ponto de vista econmico-financeiro, era bastante fraco, em funo da prpria atividade a que se dedicava. Havia muitas disputas polticas, o que, tambm contribuiu, de maneira secundria.

Nesta poca, So Marcos decide se anexar a Caxias. A grande reclamao era de que So Francisco no atendia So Marcos. No havia escolas, nem estradas, nenhuma infra-estrutura. No por m vontade de So Francisco, porque este tambm no possua.

A primeira professora da regio foi nomeada pela Cmera de Santo Antnio da Patrulha-Professora Maria Lusa.

So Francisco sempre teve, no sculo ado, muitos altos e baixos. De modo especial, os ASSISISTAS, os BORGISTAS e os MARAGATOS, na grande diviso que tnhamos l. Inclusive, se fala muito de refgio da Guerra do Paraguai, da Guerra dos Farroupilhas. Escondiam-se nas invernadas de So Marcos e na regio que vai at Vacaria.

Em 1889, eles no tinham condies financeiras de levar o municpio adiante. Ficaram seis meses dependendo de Taquara.

Depois, acharam que tinham condies e retornaram, no fim do ano de 1889, categoria de municpio.Agentaram trs anos, pedindo, novamente, socorro Taquara.

O municpio de So Francisco s conseguiu se organizar e estruturar, quando JONATHAS ABBOTT, vindo de Porto Alegre, foi nomeado para a funo de intendente, em 1902. Da para a frente o municpio comeou a estruturar-se istrativamente.

Quando os prprios nativos de So Francisco estavam dirigindo os negcios, em funo das divises existentes, enfrentavam dificuldades devido s disputas polticas. Um segmento estando no poder, o outro, naturalmente, estava "armado" para destitu-lo do mesmo.

A instalao istrativa do municpio verificou-se no dia 07 de janeiro de 1903.

O cargo de primeiro mandatrio do municpio denominava-se INTENDENTE, denominao que perdurou at a Revoluo de 1930. A partir de 1931, ou denominao de PREFEITO.

So Francisco de Paula teve os seguintes intendentes:

1- Jonathas Abbott (1903-1904)

2- Marclio Castilhos de Andrade ( 1904-1907)

3- Jos Moraes Serrano ( 1907-1918)

4- Urquiza Costa (1918-1919)

5- Ten. Cel. Alfredo Weber ( 1920)

6- Odon Cavalcanti Carneiro Monteiro (1921-1926)

7- Elizrio Paim Neto (1927-1930)

A seguir os nomes dos Prefeitos:

Dr. Antnio Verssimo Ribeiro 1931-1934

Dr. Alfredo da Costa Lucena 1935-1937

Alziro Torres Filho 1938-1947

Zeferino de Oliveira Teixeira 1948-1951

- Vice-Prefeito: Edmundo Dantas Furtado

Remgio Nodari 1952-1955

- Vice-Prefeito: Dr. Santo Borneo

Dr. ngelo Athansio 1956-1959

- Vice-Prefeito: Zeferino de Oliveira Teixeira

Dr. Bellerophonte Albuquerque 1960-1963

- Vice-Prefeito: Luciano Jos da Silva Netto

Podalyro Alves da Silva 1964-1968

- Vice-Prefeito: Dr. ngelo Athansio

Orival Ventura Maciel 1969-1972

- Vice-Prefeito: Dr.nio Brusque de Abreu

Luiz Antnio Salvador 1973-1976

- Vice-Prefeito: Eron Pinto dos Santos

Escobar da Silva Nunes Marques 1977-1982

- Vice-Prefeito: Dr. Jos Srgio de Lucena Maggi

Luiz Antnio Salvador 1983-1988

- Vice-Prefeito: Dr. Waldor Paulo Albrecht

Dr. Dcio Antnio Colla 1989-1992

- Vice-Prefeito: Dr. Elon Wood Barcellos

Dr. Moacir Castello Branco de Albuquerque 1993-1996

- Vice-Prefeito: Luiz Telmo Mazoti

Dr. Jos Srgio de Lucena Maggi 1997-1999 (In Memorian)

- Vice-Prefeito: Odilo Vieira de Andrade 1999-2000

Srgio Foscarini da Silva 2001-2004

- Vice-Prefeita: Margarete Medeiros Marques

Dcio Antnio Colla 2005 -2008

- Vice-Prefeito: Rui Barbosa Santos Paim

Dcio Antnio Colla 2009 -2012

- Vice-Prefeito: Odilo Vieirade Andrade

Antonio Juarez Hampel Schlichting 2013-2016

- Vice-Prefeito: Odilo Vieirade Andrade

OBSERVAES GERAIS:

At 1947, no havia o cargo de vice-prefeito, mas de subprefeito, nos distritos.

Em 1945, na ausncia temporria do Prefeito ALZIRO TORRES, assumiu a Prefeitura o DR. ARNO SATURNINO ARPINI, Juiz de Direito da comarca.

ALZIRO TORRES FILHO assumiu o governo do Municpio, em 1946, nomeado pelo desembargador SAMUEL SILVA, ento Interventor Federal no Estado.

Em 31 de dezembro de1963, em virtude da eleio de 15 de novembro do mesmo ano apresentar maior nmero de votos em branco do que o nico candidato concorrente, na qualidade de Presidente da Cmara de Vereadores, recm eleita, assume, interinamente, o governo municipal, o senhor ORIVAL VENTURA MACIEL, serventurio da Justia e natural de So Francisco, que dirigiu a istrao at 15 de maro de 1964, quando houve nova eleio.

Os candidatos que tiveram suas candidaturas impugnadas para a eleio de novembro de 1963, foram os senhores LUCIANO JOS DA SILVA NETTO e MRIO FOGAA, por motivos de erro na ata da conveno do partido.

Em 15 de maro de 1964, foi eleito prefeito o senhor PODALYRO ALVES DA SILVA, tomando posse, ainda no ms de maro. Seu mandato deveria terminar em dezembro de 1967, entretanto, por Decreto Federal do Governo Militar, os mandatos dos prefeitos daquela legislatura foram prorrogados at 31 de janeiro de 1969.

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